Esquina

entre seus dedos escapam seus amigos verdadeiros, seus amores verdadeiros, seus parentes de sangue, sua vida postiça, e a real acaba de esvair também .. e você não sabe como segurar nada disso .. o seu fetiche de antes desabrocha e morre sobre a sombra do seu corpo, e o sonho eufórico de um final feliz esfolou na parede de chapisco logo ali atrás, enquanto você cambaleava ouvindo ' Casa pré-fabricada' .. nem ouviu a buzina do ónibus, nem ouviu o atropelamento repentino dos seus sentimentos .. nos autidores que você evita olhar estão estampados as fotos e recordações alheias, o perigo que espreita a tentação da musica acabar e você não poder abafar mais nada .. não lhe caber mais o direito de caminhar com um pacote de biscoito meio cheiro/meio vazio e nas costas carregar o fardo brando da responsabilidade de exorcizar os maus pensamentos .. e desencarnar do próprio corpo para que caiba mas espaço para todas suas utopias .. e esquecer de se preocupar que em cada esquina te espera algo novo e velho, algo que cartomante nenhuma te disse, algo que você carrega no bolso como um bilhete que se esqueceu de abrir .. totalmente inútil agora, mas valido depois do próximo tropeção, depois do sangue pingar do seu joelho bom da sua perna dolorida .. tudo isso vale depois, é só você esperar .. como andar de bicicleta .. você se acostuma com o tempo , se acostuma até a próxima esquina chegar

_ Thamara Morgan Burns