Papel marche

no canto do quarto pela milhonésima vez você conta as 19 folhas de papel amassado, agora são vinte com essa frase inacabada ..
o chão frio faz suas pernas dormirem e a musica dançante do seu aparelho de som não faz calar a novela no cómodo ao lado, tão próximos e tão distantes, você olha no espelho e repara de novo em todas as marcas de expressão e rugas sinalizando sua velhice precósse .
nem se preocupa mas com o que vão pensar .. mas exita na ponta do lapiz não deixar o papel ser beijado tantas vezes assim pelo grafite, não deixar escapar muito da sua cabeça e imaginação, quer guardar pro sono .. pra que todas as duvidas que seus olhos projetam na parede possam embalar seu repouso e te trazer sonhos em resposta ..
em troca você só consegue mais claustrofobia e pesadelos, em troca você paga a própria pipoca e assiste os carros passando sem que notem você, fantasma embutido no carpete, espantando os pernelongos a cada gota de chuva que cai do seu cabelo que nunca secou ..
o telefone já cansou de chamar, e a porta já cansou de bater, mas você não consegue deixar de reparar nos detalhes ..
toda vez que você tenta, você erra irrevogavelmente .. sempre que você pensa que a chuva terminou e o céu vai voltar a brilhar incandescentemente com seu azul floral, um relâmpago sempre mata o sorriso nascendo no canto dos seus lábios secos .
na terra do eufemismo você não tem passagem pra entrar, não que isso te desagrade muito, todo mundo sonha, todo mundo se ilude, todo mundo tem fantasias sujas e porcas ..
e a verdade impropriamente dita é que você não pode fazer nada quanto ao mesmo ..
é fato que a depressão é coisa da sua cabeça, e você não pode se desfazer dela por falta de vontade, fato também é o quão se deixa manipular e obedecer pelos simples fato da inutilidade ..
fantoche de papel marche , tão doce e delicado .. tão bonito e tão quebravel ..
por isso ninguém bota a mão, no fundo é só medo, medo de não sobreviver a mais uma tempestade, raiva por ter que engolir cada doloroso arco-íris guéla abaixo ..
pra que deixar morrer a esperança que não nasceu, pra que ondular os versos passageiros de um futuro repugnante ? ..
acaba sempre igual de verdade, você em uma linha horizontal com os lábios colados com veucro e na mão o seu vigésimo primeiro pedaço de papel.